Aloha!
No início havia as trevas. As trevas da ignorância. Então veio o Sr. Bloch e nos mostrou toda a luz proveniente dos desenhos japoneses. E entre todos os desenhos da enxurrada que caiu no Brasil, estava o Yu-gi-oh. Um anime estranho, com protagonista de cabelo escroto portando cartas ~mágicas~. Hoje, macacos velhos, lembramos com afeto das desventuras de Yugi e sua trupe. Várias mudanças ocorreram daquela época para cá, mas uma coisa nunca mudou, as referências ao antigo Egito. E assim, antes tarde do que nunca, vamos mergulhar na mitologia principal do anime e do card game.
Entre tantos temas, escolhi dissertar sobre um que é a referência central na construção de não uma, mas quatro cartas: Book of Life, Book of Moon, Book of Taiyou e Book of Eclipse. Sim amiguinhos, hoje vamos falar do famoso e temido Livro dos Mortos.
[Livro da Vida]
Apesar do soturno nome, o “Livro dos Mortos” do Antigo Egito é o livro da vida (ou seja, Book of Life. Ãh?! Ãh?!). Fala sobre a vida agora, a vida no futuro e a vida eterna. As estradas, os caminhos, os portais, as horas, as leis e os guardiões da vida após a morte são explicados em detalhes. Na verdade, “Livro dos Mortos” foi uma denominação dada pelo egiptólogo alemão Karl Lepsius, em 1842. Os egípcios chamavam o livro de Prt m hru, o que pode ser traduzido como "A Manifestação do Dia" ou "A Manifestação da Luz".
Em seu cerne, o “Livro dos Mortos” é um conjunto de textos funerários. Antes, esses textos eram escritos nos sudários dos Reis e Rainhas do Egito. Sudários são aqueles tecidos que cobrem os mortos, os católicos podem fazer a ligação direta com o Santo Sudário, onde teoricamente tem gravado à sangue o rosto do Cristo.
Com o passar do tempo, o povão começou a usufruir desse conhecimento e começaram a reproduzir os escritos em papiros. A evidência mais confiável do mais antigo “Livro dos Mortos” escrito em papiro é o manuscrito de Nu (com a mão no bo... não, deixa pra lá...), datado do início da 17ª Dinastia do Antigo Egito, não posterior ao reinado de Amenhotep III em 1388 a.C. (favor não confundir com Imhotep, a múmia d’A Múmia).
Para os antigos egípcios, o “Livro dos Mortos” tem origem divina e foi escrita pelo deus Tot, o deus da sabedoria e assessor especial do panteão egípcio (É sério isso!). O livro tem como função dar ao morto os meios de obter três condições básicas para a sua sobrevivência no Mundo dos Mortos: as preces dedicadas às grandes divindades, a regeneração e as transformações e o domínio das forças divinas por meio do conhecimento de seus nomes secretos.
Dessa forma o presun... er... digo... o morto seria capaz de sair à luz do dia (Prt m hru, lembram?), de leste para oeste como o sol, continuando a sua existência. Podendo rever a sua casa, proteger os seus familiares e amigos, vingar-se de seus inimigos, tomar uma biritas, dá uma passada no puteNÃO... pera!, desfrutar das oferendas, adorar o deus Sol e receber as bênçãos dos deuses. Obtendo a liberdade de locomoção e de alimentação tendo: “a felicidade no céu, a riqueza na terra e a vitória no Mundo Inferior”. Diga lá, tudo que uma alma cansada que acabou de morrer quer, né não?
[Olha alí o Piccolo...]
Logo O Livro possui dois temas principais: A vitória no Tribunal de Osíris ou Julgamento de Osíris (isso lembra alguma outra carta? Hein?! =P) e a transformação do morto em um espírito glorificado (Akh) diante do deus Rá, o maioral da parada.
O livro tem 192 capítulos, cada um deles é precedido por um título escrito em vermelho sangue, que define o propósito do capítulo. Os textos eram escritos em preto e poderiam vir acompanhados de gravuras. E sua função não era meramente decorativa, muitas vezes ou pela falta de espaço ou para encurtar o tamanho do livro, servem como substituto do texto, fazendo com que muitos exemplares do “Livro dos Mortos” sejam quase que exclusivamente constituídos por ilustrações. Tipo um livro para criança de 4 anos, saca? Só que com significados fúnebres e pesados e tal...
[You can't handle the truth!]
Os capítulos d'O Livro são divididos por temas, assim temos: a) Capítulos 1 a 16: chegada do cortejo fúnebre à necrópole, a passagem pelas Portas guardadas por “demônios” e os hinos a Osíris e ao Rá; b) Capítulos 17 a 63: regeneração solar do Morto; c) Capítulos 64 a 129: a transfiguração e a regeneração do morto além do ponto focal do "Livro dos Mortos", o Tribunal de Osíris; d) Capítulos 130 a 161: consequência de tornar Akh e desfrutar da glorificação e viajar na Barca Solar pelo Mundo Inferior. Descrição geográfica do Mundo dos Mortos e como confeccionar os principais amuletos funerários; e) Capítulos 162 a 192: Fórmulas de proteção mágica e homenagens à Osíris e Rá no Mundo Inferior.
O “Livro dos Mortos” marca um momento decisivo na história, não somente da literatura egípcia, mas do próprio ser humano diante de questões universais, como a existência de uma alma imortal, as consequências das ações terrenas em uma vida póstuma onde os justos serão glorificados e desfrutarão da vida eterna.
That’s all, folks...
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